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A divisão subjetiva e o véu do individualismo A psicanalista Maria Rita Kehl articula, à luz das teorias psicanalíticas freudianas e lacanianas, a noção de que o sujeito humano é estruturalmente dividido. O inconsciente escapa, e o sujeito é sempre faltante – a unidade ilusória do “eu” individualista evidencia-se uma falácia. O ideal de autonomia radical, promovido pela publicidade, mascara uma dependência constante, pois “o ideal individualista é fadado a fracassar”, segundo Kehl. Nesse sentido, apontar que o ressentido atribui ao outro a responsabilidade pelo fracasso, preserva-se a integridade narcísica do indivíduo e evita-se a implicação subjetiva Kehl aprimora a análise clínica do ressentimento apontando-o como uma defesa contra a aceitação da incompletude. O ressentido não se coloca como sujeito de seu desejo; antes, delega ao outro o poder de decidir seu sofrimento. Nesse gesto, preserva o mito do eu autônomo, ocultando a dependência simbólica que constitui todo sujeito na relação com o Outro. Em perspectiva, a divisão subjetiva não é uma anomalia, mas o traço constitutivo do ser falante. O reconhecimento dessa divisão implica romper a fantasia narcísica e aceitar o sujeito como falta. Só assim contribui-se para uma implicação ética na relação com o inconsciente e com o Outro. Em síntese, o que está em jogo, segundo Kehl, é a questão entre o ideal do indivíduo autossuficiente e o sujeito dividido, marcado pela falta, pela dependência simbólica e pelo inconsciente. O ressentimento, nesse quadro, torna-se uma barreira à implicação subjetiva e ao reconhecimento da divisão constitutiva. Superá-lo exige coragem para reconhecer a própria incompletude e responsabilizar-se por seu desejo. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Lacan #MariaRitaKehl #SubjetividadeDividida #IndividualismoFalto #Ressentimento #PsiqueInsight Vídeo: recorte da participação da psicanalista Maria Rita Kehl no programa Café Filosófico.
O desafio do autoconhecimento e a dialética do desapego: uma análise psicanalítica Na cena da série Sessão de Terapia, o paciente Otávio expressa uma resistência em relação ao processo terapêutico quando desabafa com Theo sobre sua visão crítica acerca dos terapeutas, ele diz que esses profissionais acham que entendem da alma. Esse momento apresenta uma tensão entre a busca pelo autoconhecimento e o medo do desapego, sentimentos que ocorrem no setting analítico. Otávio manifesta uma desconfiança em relação ao processo de desapego, associando-o à ideia de egoísmo. Sua fala mostra uma angústia comum em pacientes que, quando são confrontados com a necessidade de olhar para si, temem a solidão e, também, a desconexão com os outros. Do ponto de vista da psicanálise, essa resistência pode ser compreendida como uma defesa contra a dor do reconhecimento de aspectos de si mesmo que são inconscientes, mas que, uma vez trazidos à consciência, podem gerar transformações significativas na forma como o indivíduo se relaciona com o mundo e consigo mesmo. O terapeuta Theo, em sua indagação, “por que que a ideia de olhar pra si mesmo assusta tanto você?”, traz uma provocação para que Otávio possa refletir acerca das raízes desse medo. O desconforto de Otávio em explorar seu mundo interno pode ser interpretado como uma resistência ao processo de individuação, no qual o sujeito é convidado a desvendar bem como integrar partes de si mesmo que foram reprimidas ou negadas. Essa resistência é um fenômeno comum na análise, o paciente, deparando-se com a possibilidade de mudanças significativas, pode temer a perda das suas referências emocionais e afetivas. Continuação nos comentários 👇. Vídeo: recorte da série Sessão de Terapia, GNT. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #SessãoDeTerapia #PsiqueInsight
Entre o amor e a perda: uma análise psicanalítica da música “De Tanto Amor” A canção “De Tanto Amor”, eternizada por Roberto Carlos e aqui interpretada por Nando Reis, expressa a experiência limite do sujeito diante da intensidade afetiva e do rompimento amoroso. O verso que diz “Me perdi de tanto amor” apresenta a dissolução parcial do eu na relação com o outro, fenômeno que, segundo Freud (1921), pode ocorrer nos vínculos apaixonados, quando o investimento libidinal se desloca do próprio ego para o objeto amado, aproximando-se de uma identificação fusional. Tal movimento, embora prazeroso, carrega o risco de anulação subjetiva, evidenciado na confissão “Ah! Eu enlouqueci”. O desfecho amoroso, marcado pela despedida e pelo choro (“Vou chorar mais uma vez”), remete ao processo de luto, no qual o sujeito, conforme Freud (1917), é levado a desinvestir a libido do objeto perdido, tarefa que se dá de forma dolorosa e gradual. O “erro” reconhecido (“Aí foi que eu errei”) não necessariamente aponta para uma falha objetiva, mas para a tomada de consciência de que a entrega total ao outro implicou uma perda do próprio eixo identitário. Nesse sentido, a música mostra o embate entre o desejo de manter o objeto e a exigência psíquica de separação, característica do que Lacan (1998) denomina como falta estrutural – condição que sustenta o desejo. “Quando olhar nos olhos seus” no momento do adeus, o sujeito tenta preservar, ainda que por instantes, a ilusão de completude, resistindo ao corte simbólico que encerra a relação. Assim, “De Tanto Amor” ilustra a tensão entre Eros e Thanatos, entre o impulso de vida que busca unir e o impulso de morte que impõe rupturas. A poesia da canção dá forma à experiência universal da perda amorosa, em que o sujeito, mesmo quando se despede, também se reencontra consigo. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Lacan #Freud #PsicanáliseDoAmor #RobertoCarlos #NandoReis #LutoEAfetividade #PsiqueInsight
A repetição de padrões e a pulsão de morte Maria Homem aborda uma das descobertas mais importantes de Freud: a pulsão de repetição, associada à pulsão de morte. Segundo Freud, a pulsão de repetição é responsável por conduzir o sujeito de volta ao sofrimento, repetindo padrões e sintomas que o aprisionam em ciclos de dor. Mesmo com o desejo consciente de mudar e interpretar suas experiências, o sujeito vê-se preso em comportamentos repetitivos que trazem angústia, evidenciando a força inconsciente que Freud denominou como pulsão de morte. Essa repetição de padrões, como ressalta Maria Homem, surge daquilo que não foi elaborado no psiquismo do sujeito. Quando uma experiência traumática ou dolorosa não é devidamente processada, ela permanece “crua” no inconsciente, retornando incessantemente por meio de sintomas ou compulsões. Apresenta-se aqui a visão de Lacan que complementa essa questão, ele afirma que o sujeito é muitas vezes movido por aquilo que desconhece acerca de si mesmo, sendo levado pela jouissance (gozo), que também pode ser um retorno ao que é doloroso, mas familiar. O trabalho analítico, conforme apontado por Maria Homem, consiste em encontrar uma via simbólica para dar sentido a essas experiências não elaboradas. A fala, a escuta e a análise oferecem para o sujeito a possibilidade de nomear bem como ressignificar esses padrões, permitindo que ele passe da repetição à criação. Na medida em que o sujeito fala sobre suas dores e seus sintomas, ele começa a “tecer” um novo sentido para suas vivências, ultrapassando o ciclo repetitivo e dando chance para novas formas de ser. Lacan destaca a repetição como uma tentativa fracassada de encontrar o objeto perdido, aquilo que o sujeito nunca teve, mas que, inconscientemente, busca. Por isso, a pulsão de repetição não se resolve por meio da simples vontade consciente de mudança. Ela necessita de um processo profundo de simbolização, no qual o sujeito, por meio da linguagem e do desejo, finalmente pode romper com o circuito do sofrimento e caminhar em direção à criação de novas possibilidades. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Lacan #Repetição #MariaHomem #PsiqueInsight
O ressentimento e sua constelação de afetos Maria Rita Kehl traz uma reflexão acerca do ressentimento, um afeto que, muitas vezes, apresenta-se camuflado por discursos de vitimização e injustiça. Na psicanálise, o ressentimento pode ser compreendido como um afeto que forma-se a partir de uma constelação de outros sentimentos, como a mágoa, a raiva e a inveja, os quais são frequentemente reprimidos e não verbalizados. Essa complexidade faz com que o ressentimento adquira variantes narcísicas, especialmente quando o sujeito não se assume como ressentido, mas coloca-se em uma posição de superioridade moral em relação aos demais. A psicanálise propõe olhar para os afetos além da sua forma explícita, principalmente naquilo que eles tentam esconder. O ressentido, segundo Kehl, é aquele que, sendo incapaz de lidar com suas frustrações e desejos não realizados, mascara esses sentimentos por meio de uma postura de vítima. Essa posição não apenas preserva o ego do sujeito, como também coloca-o em um pedestal, em que ele enxerga-se como moralmente superior, que é uma defesa contra a dor de reconhecer seus próprios fracassos ou limitações. Lacan, em sua teoria sobre o desejo e o reconhecimento, dá base para entender que o ressentido busca, inconscientemente, ser visto como injustiçado, alguém a quem foi negado o que lhe é de direito. Essa busca por ser reconhecido, contudo, não é pela justiça, mas pelo desejo de manter-se em uma posição onde ele possa alimentar a fantasia de superioridade, como se a sua dor o tornasse moralmente melhor que os outros. Assim, o ressentimento, camuflando-se de sensibilidade ou de injustiça, recebe a complacência dos outros, reforçando a posição de vítima e perpetuando o ciclo de frustração e mágoa. O brilho narcísico do ressentimento, segundo Kehl, reside nessa incapacidade de nomeá-lo como tal. Admitir-se ressentido é quebrar essa fantasia e lidar com a realidade de seus desejos e afetos reprimidos. No entanto, o ressentimento, quando não reconhecido, torna-se um estorvo psíquico, aprisionando o sujeito em uma repetição constante de queixas e frustrações, impedindo-o de avançar. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #MariaRitaKehl #PsiqueInsight
Entre vozes e silêncios: reflexões psicanalíticas de “Pai”, por Fábio Jr. e Cleo Pires A interpretação conjunta de Fábio Jr. e Cleo Pires da canção Pai, no programa Altas Horas, constitui um momento de intensa elaboração afetiva entre gerações. A letra, composta originalmente para o pai do cantor, apresenta o movimento simbólico de reconhecimento da função paterna, atravessado por ambivalências afetivas. O verso “não quero e não vou ficar mudo pra falar de amor pra você” retrata o rompimento com a interdição afetiva muitas vezes herdada no seio familiar, onde o silêncio opera como defesa frente à vulnerabilidade (FREUD, 1915). No trecho em que convida o pai para “sentar” e “falar um pouco”, a canção encena a busca pela transmissão simbólica – o “jogo da vida” – que, segundo Lacan (1969), estrutura o sujeito na relação com o Outro. A insegurança confessada (“me perdoa essa insegurança”) remete ao resíduo da posição infantil frente à figura paterna, mas a afirmação “hoje eu sigo em paz” indica a possibilidade de uma reconciliação interna, fruto do trabalho de luto pela idealização paterna (FREUD, 1917). A performance ao vivo, permeada pela emoção visível de pai e filha, manifesta o que Winnicott (1971) descreve como holding afetivo – um espaço potencial em que o vínculo se atualiza e se transforma. Neste ato, pai e filha não apenas interpretam uma música, mas reencenam, diante do público, um encontro simbólico onde a palavra, antes presa, se liberta para nomear o afeto. Neste Dia dos Pais, esta cena reforça que a função paterna não se esgota na biologia, mas se perpetua na capacidade de sustentar e transmitir, por palavras e gestos, um lugar de amparo e de lei. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Lacan #Winnicott #DiaDosPais #FabioJr #RelaçãoPaiEFilha #AmorEAcolhimento #FunçãoPaterna #PsiqueInsight
O luto das pequenas coisas: uma análise psicanalítica sobre Caetano Veloso e as perdas Na entrevista para Eric Nepomuceno no programa Sangue Latino, Caetano Veloso fala sobre as perdas ao longo da vida, trazendo uma visão humana e existencial. Quando questionado sobre suas perdas, Caetano menciona pessoas queridas, e também ilusões e esperanças – elementos intangíveis que, em muitos sentidos, constituem o cerne de nossa subjetividade. Na psicanálise, é possível interpretar esse relato sobre o inevitável processo de luto que permeia a experiência humana. Freud aponta o luto como uma resposta natural à perda de um objeto amado, e Lacan amplia essa visão considerando que a estrutura do desejo é marcada por uma falta fundamental – o que ele chama de “falta-a-ser” (manque-à-être). Na narrativa de Caetano, perder pessoas queridas para a morte ou para o desentendimento remete o conceito freudiano do luto, mas também uma dimensão de desidentificação com o mundo. Cada perda representa um corte simbólico, uma forma de desprendimento de uma parte do “eu” que estava entrelaçada com esses vínculos. Em termos lacanianos, a perda mostra o “Outro” como algo inatingível e instável, reforçando a nossa incompletude estrutural. Afirmando que essas perdas são também “bondes” que se perdem, Caetano toca na noção de temporalidade e nas “pequenas mortes” – momentos em que deixamos para trás antigos modos de ser, abrindo-se para novas construções identitárias. Este processo está em consonância com o que Winnicott chamou de “capacidade negativa”, ou seja, a habilidade de tolerar a incerteza e a fragmentação sem sucumbir a ela. Na psicanálise, esse movimento de desapego é essencial para a maturidade emocional, pois permite que o sujeito confronte-se com o real da vida, aceitando o que é incontrolável e, ao mesmo tempo, adquirindo uma visão mais respeitosa de si. Continuação nos comentários. 👇 Vídeo: Caetano Veloso em entrevista para Eric Nepomuceno, programa “Sangue Latino”. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Lacan #Winnicott #PsiqueInsight
O olhar perdido da mãe e a reatualização do trauma: uma leitura psicanalítica da entrevista de Carolina Dieckmann A entrevista de Carolina Dieckmann a Maria Fortuna, no “Conversa vai, conversa vem”, traz uma tessitura afetiva que, com base na psicanálise, mostra como a perda do objeto primário (a mãe) pode reabrir feridas psíquicas precoces e instaurar uma vivência de desamparo. A atriz narra além da dor do luto, a ausência do olhar materno, o qual, segundo Winnicott (1975), é o espelho no qual o bebê se reconhece como sujeito. Com a morte da mãe e da avó, esse olhar se perde, provocando o retorno de experiências narcísicas de desintegração. O relato da atriz remete à função de sustentação psíquica exercida por essas figuras, cujo desaparecimento retrata a angústia de aniquilamento descrita por Klein (1991) como característica da posição depressiva. A dor não limita-se à ausência física, mas à perda simbólica de um amor incondicional que sustentava o eu. Em sua fala sobre a preparação para viver uma personagem alcoólatra, ela externa a vivência infantil de acompanhar a mãe imersa em sofrimento psíquico e anestesia alcoólica. Aqui, o álcool aparece como recurso defensivo frente ao excesso de dor, um movimento de recalque do insuportável. Freud (1917) aponta para a relação entre luto e melancolia, sendo esta última marcada pela identificação inconsciente com o objeto perdido, que passa a habitar o ego em forma de autodepreciação. A atriz revive esse conteúdo latente na experiência cinematográfica, reatualizando um trauma infantil pela via simbólica. A arte, nesse sentido, cumpre função sublimatória, conforme destaca Freud (1908), permitindo a expressão de afetos recalcados em uma forma socialmente elaborada. Nesse contexto, sua entrega à personagem aponta, portanto, como um ato de elaboração: retomar a dor da infância com os recursos do adulto, nomeando o indizível da vivência e reconfigurando a narrativa de perda em expressão criativa. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Winnicott #Klein #PsicanáliseEmCena #LutoEIdentidade #TraumaInfantil #CarolinaDieckmann #PsiqueInsight
O inconsciente freudiano e a ética da fala: uma análise psicanalítica da fala de Maria Rita Kehl Maria Rita Kehl, em sua fala para o “Espe Brasil”, traz uma síntese importante do que Freud chama de “virada psicanalítica”. A noção de que o inconsciente é determinante dos nossos desejos, atos e sofrimentos desafia a visão clássica de um sujeito plenamente racional e consciente de suas escolhas. Essa perspectiva freudiana aborda uma reflexão ética sobre a condição humana, sobretudo no que tange à relação entre o bem, a moral e o desejo inconsciente. Freud, em sua introdução do conceito de inconsciente, desloca o eixo da subjetividade para além da consciência. O inconsciente manifesta-se em atos falhos, sonhos e sintomas, trazendo à tona conteúdos reprimidos que atravessam a fala e escapam o controle do eu consciente. Kehl exemplifica isso mencionando um ato falho hipotético, como dizer “penico” em vez de "periquito". Esse exemplo, embora aparentemente trivial, deixa brecha para a investigação psicanalítica, levando em conta que o ato falho não é um erro casual, mas uma janela para o desejo ou conflito inconsciente. Analisando essas manifestações, a psicanálise propõe uma ética singular, uma vez que o “bem” na perspectiva freudiana não corresponde necessariamente aos valores morais impostos pela cultura. Como Kehl aponta, o bem na psicanálise carrega uma ambiguidade, é aquilo que atende às singularidades de um sujeito, mas que não deve ser interpretado como uma licença para a impulsividade ou para a satisfação irrefreada de desejos. Aqui, a ética psicanalítica diferencia-se da moral tradicional, pois reconhece que o bem para o sujeito deve passar pelo crivo da elaboração e da simbolização. O pensamento de Lacan complementa essa reflexão com base em sua afirmação que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Assim, na cena analítica, a palavra ganha protagonismo. A escuta atenta do analista permite que o sujeito revele, por meio da fala, os enigmas do inconsciente. Continuação nos comentários. 👇 Vídeo: Maria Rita Kehl para Instituto Espe Brasil. #ReflexõesPsicanalíticas #Psicanálise #Freud #Lacan #Inconsciente #Psicanálise #ÉticaDaFala #EspeBrasil #PsiqueInsight
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